Tem alguma coisa que me incomoda no meio literário, e eu vou tentar explicar o que é – por mais que eu não seja expert no assunto, não tenha vivência do meio, não saiba nada sobre a vida e blábláblá. Movin’ on, sou um jovem cheio de ideias pré-concebidas e não sei do que estou falando, mas vou falar mesmo assim. E que se danem os nós.

De uns tempos para cá, tenho percebido que a) os blogs “especializados” (sim, odeio aspas; sim, estou usando-as porque, se você não percebeu, isso é uma ironia) em literatura de mercado estão crescendo numa vertente exponencial diretamente proporcional à proliferação de pequenas, médias e microeditoras com nomes bastante confusos e intrigantes acerca de seu sentido, tipo uma com nome de petisco e outra com nome de personagem do Bakugan; b) esses blogs são vorazes e têm cinquenta tons diferentes de exigência para tentar uma parceria; c) muitas editoras concedem essa parceria, mesmo sabendo que alguns blogs nem são tão sérios assim. Tudo pela resposta do google no primeiro lugar. Business is business e esse lance todo mercadológico que apenas os grandes empresários entendem.

Não me levem a mal. Sei que existem exceções dentro de todo esse caldo caótico de letras e young adults. Alguns blogs são sérios, alguns são bastante competentes e apenas alguns fazem desse trabalho parceria – ler – resenhar – fazer sorteio – se descambar pro correio – responder comentário – responder formspring – atualizar facebook – twitter – tumblr – orkut – google plus – aaaaaaaaargh um estilo de vida. Sério, não sei como conseguem fazer tanta coisa ao mesmo tempo e estudar e trabalhar e ter uma vida social.

É sobre esses blogs sérios que vou falar (se você pensou que eu ia ser polêmis e falar de quão erradas as coisas estão na blogosfera literária e estava doid@ pra me xingar muito no twitter, você estava errad@). E também vou falar um pouco sobre as editoras pequenas, médias e micros e principalmente sobre os autores que participam delas. Ready, set, go? Bora lá.

Quando um blog é sério e faz um bom trabalho, pedir parcerias é contraproducente: as editoras vão até o blog e perguntam se não há interesse por parte deles em ser parceiro. @s blogueir@s que não estão ávidos pelo sistema “leio livro de graça, faço um resenha de meia página e tá tudo certo” sabem muito bem disso, talvez melhor que eu. Então vêm as editoras, pedem parcerias, @s bloguei@s aceitam e, na maioria das vezes, são bem claros: “faço resenhas parciais sobre aquilo que leio. Não é porque você me ‘deu’ o livro que tenho a obrigação de falar bem dele, se for uma porcaria. Se eu não gostar, terei a obrigação de dizer o que não gostei e porque não gostei. É meu trabalho, é o que faço, quer você goste ou não. Não irei denegrir a imagem da editora nem do autor, apenas apontarei o que não gostei sobre o livro X ou Y”. As editoras acatam, é estabelecido um contrato verbal e tudo parece correr às mil maravilhas. Só que não.

Posso falar?
Nos casos de literatura internacional, isso é um pouco menos latente: falar mal do trabalho de alguém que está no hemisfério norte parece muito mais seguro a@ blogueir@ do que falar do livro de alguém com sangue latino e fervente por vocês. Isso, per se, já é uma constatação bastante infeliz. Parece que falar mal do livro de algum autor iniciante e nacional, que se esforça para participar de blogs, responder pessoas e estar em mil lugares ao mesmo tempo, é um desserviço ao autor e ao trabalho dele. Quando estou falando isso, não estou me anulando e falando que tod@s @s que fazem esse tipo de coisa são piores do que eu e que eu falo a verdade pra quem quiser ouvir e toda essa palhaçada. É claro que me incluo nesse metiê de tentar amenizar ao máximo as críticas quando falo de um autor iniciante nacional. Tento falar do que não gostei, mas não sou tão latente/irônico/palhaço do que sou quando falo mal de um livro vindo d’além-mar. E, sinceramente, não sei se isso é legal ou não.

Falar mal do livro nacional é perigoso, principalmente se esse livro foi produzido por uma pequena editora, dando seus primeiros passos no mercado literário nacional. Entendo isso. Entendo que é um tanto quanto chato para você, blogueir@, ter que falar mal de alguém que é simpático com você, com quem você troca twits e vez ou outra encontra em eventos literários. No entanto, por outro lado, isso não acaba incentivando a tal pequena editora a continuar exercendo um trabalho que poderia ser melhor? Não continua incentivando o autor a se manter numa zona de conforto e escrever da mesma forma not-so-good só porque todos sorriem e falam como aquele trabalho está bem feito e como ele deve continuar escrevendo assim?

Autor é um bicho estranho. São um pouco egocêntricos, um pouco narcisistas, um pouco intolerantes, um pouco simpáticos e um pouquinho só humildes. Não gostam de ser criticados; na verdade, ninguém gosta. Eu não gosto. Meu irmão não gosta. Nem minha mãe gosta quando alguém fala que o arroz dela está sem sal. Mas críticas são necessárias, por mais que doam no ego e façam o autor ficar uma semana em um quarto escuro chorando seus erros. Fazem parte do crescimento de qualquer um, seja como carpinteiro, piloto de caça ou escritor.

Aí, em alguns casos – e, depois de enrolar por todo esse tempo, finalmente cheguei onde queria – vem algum@ blogueir@ e tem a coragem de falar mal do trabalho de um autor iniciante nacional e/ou de uma pequena editora tupiniquim. Apontam falhas, defeitos de narrativa, problemas de produção/impressão/revisão dos livros, etc e tal. Enfim, exercem o trabalho que devem exercer de forma diplomática, criteriosa e, mesmo que não ganhem um pence por isso, bastante profissional.

E, por algum motivo, isso faz acender a fúria interna de editoras e autores.

Não entendo o motivo. Sério mesmo, não consigo entender. Parece que o fato de ter entregado um livro a um@ blogueir@ isenta a editora de receber críticas negativas sobre seu trabalho. “Eu te dei um livro, você não pagou nada por ele. Fale bem ou morra”. Mesmo com toda a explicação de ‘falo mal do que não gosto’, as editoras – sim, principalmente as pequenas e tal – querem imputar a culpa do trabalho not-so-good em cima d@s blogueir@s. O livro está ruim? @ blogueir@ não leu direito. Faltam páginas? @ blogueir@ que as pulou só pra falar mal do nosso trabalho. Há problemas de revisão? @ blogueir@ não sabe nada, mudou o acordo ortográfico e ele ainda não pegou as nuances novas da língua portuguesa. O texto é cheio de falhas, furos, narrativas confusas e explicações sem pé nem cabeça? @ blogueir@ que não entende sobre pós-modernidade, meu texto é perfeito.

Acho que, como em qualquer coisa na vida, é necessário chegar a um meio termo. Caminho do meio, tipo o Buda, sacam? Cabe a@ blogueir@ o trabalho de criticar aquilo que não gostou de forma a não ofender a pessoalidade do autor ou da editora ao mesmo tempo em que cabe a esse bravo navegante das letras dissecar o texto e explicar todos os porquês, sem cair no desserviço de fazer uma mini-resenha que mais parece a cópia da sinopse da contracapa.

Ao autor, cabe a hombridade de aceitar as críticas – sejam sutis ou pedradas, sussurradas ou berradas em CAPS LOCK – e tentar levá-las para a vida. Mesmo que doa e que o cara que falou mal possa parecer um filho da puta a princípio, na maioria das vezes @ blogueir@ só está emitindo uma opinião. Raros são os casos em que todos se juntam para fazer um cyberbullying coletivo e criticam um livro para que o autor se ferre (não que isso não aconteça, veja bem). Então você, autor, pegue suas críticas, anote-as, releia seu livro, veja se elas fazem sentido e movin’ on, você vai escrever mais coisas. Tente não errar da próxima vez.

Ao editor/editora, cabe entender que quando um produto é mal feito, mal impresso, mal revisado, mal preparado e mal diagramado, a culpa não é de ninguém além da própria editora. O livro é um produto, possui um valor de mercado e, como tal, é passível de crítica. Vale dinheiro, dinheiro vale trabalho, a.k.a. o livro vale trabalho. Mesmo que seja um livro ‘dado’ a um@ blogueir@, esses tipos de falhas não devem passar despercebidos pela resenha. São dados tão importantes quanto a essência do texto e a história em si. Se uma história é boa, mas o livro – o produto físico, não o trabalho intelectual – é uma porcaria, ele deve ser criticado. E vale a mesma máxima dos autores: pegue as críticas, jogue um pouco de açúcar e canela, engula-as e tente não errar da próxima vez. Não fique reclamando que todos são feios-chatos-bobos e não te entendem. É coisa de criança.

Esse texto foi escrito sob sussurros soturnos e depressivos de Fiona Apple e seu “The Idler Wheel Is Wiser Than The Driver Of The Screw & Whipping Cords Will Serve You More Than Ropes Will Ever Do”, e de berros viscerais e guitarras distorcidas de Gal Costa e seu “Cinema Olympia” – por mim considerado o melhor álbum de música nacional da história. Quando a Gal ainda tinha alguma coisa pra falar e não fazia funks com o Caetano.