Não adianta: você pode ser o quão rockeiro quiser e gastar sua saliva falando que ‘música brasileira não presta, MBP é uma merda e eu só ouço Slipknot e SOAD’, mas não há como negar que a Gal Costa tem uma voz que deixaria Serjs e Coreys sentados no meio-fio de uma interestadual qualquer, chorando. A mulher é dona de uma das vozes mais potentes que já ouvi em todos os milhões de megabytes que tenho de música, e tenho certeza que é um pouco difícil chegar ao nível de perfeição dela.

E, como toda boa cantora que se preze, não é raro a Gal soltar um agudo que estoura todas as janelas da casa. E eles são legais. Te deixam meio zonzo, mas são legais. Decidi listar aqui cinco músicas que, para mim, definem muito bem o tipo de artista que a Gal é e o que ela canta, pra vocês verem que ela não é só “eu nasci assim, eu cresci assim, Gabriela”. Acho que é uma oportunidade pra quem não conhece e uma boa pra quem já conhece acompanhar comigo os berros dela. Vambora?

5. Cinema Olympia

Bora começar de leve. Essa música, que abre o disco ‘Gal’, de 1969 – para mim, o melhor disco da história da música brasileira, sem mais – fala sobre uma matinê no tal Cinema Olympia, um cineminha lá de Belém do Pará fundado em 1912 e que resiste até hoje fazendo mostras de filmes clássicos. Ela não solta nenhum berro absurdo nessa música (tenho que admitir), mas solta um ‘AU’ antes de emendar no refrão que me conquista sempre que ouço.


4. Cultura e Civilização

Outra música do ‘Gal’, de 1969. “A cultura e a civilização / elas que se danem / ou não” e “contanto que me deixem / meu cabelo belo” já mostram todo o deboche dessa música. As oscilações vocais da Gal são absurdas de bonitas, indo do grave pro agudo e pro estridente e pro berro e pro escárnio, tudo ao mesmo tempo. E berros, muito bem dosados, ao longo da música.


3. Meu Nome é Gal

Gal (1969)
Talvez seja injustiça não colocar “Meu Nome É Gal” (também do ‘Gal’ de 1969 – eu não disse que esse é o melhor disco da história?) em primeiro lugar, mas tenho minhas cartas na manga. Nessa música, Gal fala dela mesma. Mesmo que não tenha sido ela a compositora, ela faz um meio-relato meio-canção e sua vontade de “se corresponder com um rapaz que seja o tal”. E no fim, depois de muita candura e muito amorzinho, ela começa a berrar implorar e berrar pedir e berrar dizer que quer muito amar alguém.


2. Índia

Índia (1973)
Nos meus arquivos existem duas versões dessa música, uma de 1973 e outra de 1979. Estou falando da primeira versão, do disco “Índia” de 1973. Essa música é uma pintura descritiva: se demora descrevendo pormenorizadamente a índia que é personagem para depois descobrirmos que ela não estará mais presente na vida do personagem que se despede dela. É uma música triste e bucólica, sobre dor da perda e distância, que vai se construindo aos poucos. No começo, pensamos até que a música é assim até o fim, calminha, um bolero pra balançar a cabeça e dançar de olhos fechados e agarrado a quem a gente gosta. Mas, no último minuto dos quase sete de música, Gal começa a crescer e crescer e crescer e, quando a gente percebe, ela já está completamente doida e berrando ‘TOOOOODO MEU PARAGUAAAAAAI’. Sem dúvidas, uma das músicas mais bonitas dela.


1. Vapor Barato

-Fa-Tal- (1971)
Se você acha que essa música é d’O Rappa, péééééé, você está errado. Esse é, na verdade, um dos registros mais importantes e bonitos da carreira da Gal. Gravado ao vivo e disponibilizado no disco “FaTal – Gal a todo o vapor”, de 1971, ‘Vapor Barato’ é a última música do disco, e também a mais longa (mais de oito minutos!). É uma música que começa no silêncio, com apenas um violão acompanhando a voz dela, que parece estranhamente acanhada e entristecida. Não é uma música divertida como ‘Cinema Olympia’ ou ‘Cultura e Civilização’; é, muito pelo contrário, um registro extremamente pesado e difícil de digerir. A voz dela vai te envolvendo aos poucos e é necessário um pouco de paciência para que a música atinja seu ápice. Mas, quando ele chega, não há decepção.

Vapor Barato by Gal Costa on Grooveshark

E aí, achou a lista justa? Faltou alguma coisa ou os berros estão fora do lugar? Comente aí embaixo! :)