2 de outubro de 2013

Durante a Bienal 2013, passei muito tempo no estande da Gutenberg. E observei, com olhares atentos, uma pilha de livros verdes que parecia evaporar a cada vez que era reposto pelo pessoal que trabalhava ali. Era um livro que me chamou atenção pela capa estrategicamente neutra (no sentido de: não é um livro “de menina” nem “de menino”) e pela sinopse: ‘mutantes + distopia + aventura’. Hm, premissa interessante, pensei. Peguei um livro da pilha, paguei e levei para a autora, que estava ali no estande, autografando.

Foi aí que percebi que, mesmo que o livro fosse ruim (o que não é, de forma alguma), valeria a pena tê-lo comprado apenas por ter conhecido a autora. Impossível não começar a falar sobre esse livro sem falar da idealizadora por trás das páginas, a mega carismática Bárbara Morais. Ela, muito comunicativa e toda empolgada com o lançamento do livro, é uma pessoa incrivelmente gente boa. Estava lá cheia de sorrisos e disposição para assinar quantos livros fossem necessários e tirar quantas fotos fossem possíveis, sem diminuir o sorriso do rosto mesmo com a demanda incrivelmente alta. Depois, é claro, comecei meu processo de stalker e passei a segui-la no twitter, a ler o blog dela e adicioná-la no facebook. Isso só reafirmou a primeira impressão que tive: a Bárbara é sensacional.

Isso posto, vamos ao livro: “A Ilha dos Dissidentes” (ou AIDD, se você estiver com preguiça de escrever tudo) se passa em uma sociedade alternativa onde a humanidade se divide entre seres humanos ‘normais’ e ‘anômalos’. Os anômalos são seres que nascem com mutações genéticas que conferem a eles poderes especiais, como super-força ou habilidade de respirar embaixo d’água. No livro, acompanhamos a história de Sybil Varuna, uma menina que descobre não ser igual aos outros humanos. Sybil é a única sobrevivente do naufrágio de um navio que a levava de Kali – província empobrecida que está no meio de uma zona em guerra entre a União e o Império – para o continente Pacífico, que abriga refugiados escolhidos pelo governo para se verem livres das bombas e do terror.

Resgatada do naufrágio, Sybil percebe que sua vida mudará completamente: sendo uma anômala, ela não poderá voltar para Kali, mas será enviada para Pandora, uma província feita para concentrar anômalos – identificáveis a partir de suas roupas amarelas. Para a protagonista – uma garota órfã de uma região empobrecida e imersa em guerra – a possibilidade de mudança se mostra extremamente satisfatória: de uma hora para outra, ela é adotada por uma família que está feliz em tê-la entre os seus, experimenta pela primeira vez uma quantidade absurda de comidas gostosas; e, também pela primeira vez, consegue se relacionar com amigos da sua idade e firmar amizades verdadeiras.

A princípio, eu tinha torcido o nariz pra esse sentido clean da cidade de Pandora: tudo parece muito fácil para Sybil e meu hábito de leitura sabe que quando a esmola é demais o mendigo desconfia. Mas, aos poucos, fui entendendo que nada do que está ali é gratuito: a verdade é que Sybil sofreu muito na vida e, pela primeira vez, está em um lugar onde não precisa se preocupar com dividir a comida entre almoço e jantar.

A primeira metade do livro se foca mais nesse cotidiano de Sybil e nas relações dela com os amigos, além de possíveis e prováveis interesses amorosos: nesse momento, o enredo se preocupa menos em desenvolver uma história de ação e mais a desenvolver os relacionamentos entre os personagens, o que pode parecer um pouco lento para alguns, mas que para mim funcionou bem.

Sobre os personagens coadjuvantes: são todos muito bem construídos. Destaques para Leon, o anômalo cego que se vira muito melhor do que qualquer outro com visão; Andrei, que disputa com Sybil o posto de melhor-anômalo-da-água; e Ava, uma She-Hulk baixinha e super-forte. Os coadjuvantes são numerosos, mas cada um tem seu momento dentro da narrativa e são perfeitamente cabíveis; não sobra ninguém ali, mesmo que algumas funções sejam mais importantes do que outras.

Outro parêntese é o acerto da Bárbara Morais para a diversidade de etnias e de sexualidades dentro do livro. Temos gente de toda cor e de toda a sexualidade – até mesmo o heterossexual que se veste de mulher para apresentar um programa de televisão –, tudo colocado de uma forma muito natural e acertada, sem forçar barras de inclusão e/ou levantar bandeiras. Uma opção extremamente bem feita que enriqueceu muito a narrativa.

Já na segunda parte da história – depois de um ponto de virada que coloca nossos personagens em uma situação inesperada –, a ação toma conta da narrativa. E ela é frenética, com perseguições, tiroteios, correrias, bombas explodindo e pessoas quase morrendo a todo o momento. Se você estiver achando a primeira parte um pouco morosa e está com preguiça de continuar, meu conselho é: CONTINUE! Se você, assim como eu, é fã de ação, não vai se arrepender ao terminar de ler o livro. As viradas finais são extremamente bem construídas e o último capítulo fecha o primeiro volume da trilogia com uma série de perguntas que serão respondidas (assim espero) nos próximos dois volumes.

“A Ilha dos Dissidentes” é uma aventura daquelas que não dá pra parar de ler. Se você é fã de X-Men ou de quadrinhos de super-heróis em geral, vai se sentir extremamente confortável com a escrita da Bárbara; se não é fã, vai gostar igualmente do livro. Então tire suas roupas amarelas do armário e junte-se aos anômalos!

Posted on quarta-feira, outubro 02, 2013 by Lucas Rocha

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10 de setembro de 2013


Escrever uma opinião sobre o segundo livro de uma série é sempre muito difícil. Há aquela preocupação em não soltar spoilers, em não acabar falando mais do que devia e, ao mesmo tempo, tentar passar todas as sensações que a leitura me proporcionou. Escrevo esse texto em um momento eufórico, onde acabei de fechar o livro e corri imediatamente ao Word, tomando todo o cuidado necessário para não encher a caixa de e-mails do autor com pedidos e mais pedidos de TRANQUE-SE EM CASA, ESCREVA OS PRÓXIMOS LIVROS E SÓ VOLTE A VER O SOL QUANDO TERMINÁ-LOS!

Pois é. Foi exatamente assim que me senti quando terminei de ler “Prata, Terra e Lua Cheia” (Editora Gutenberg, 272 págs), do escritor paulista Felipe Castilho: com sede de quero mais. E isso já diz bastante sobre a história, que se constrói com um cuidado extremamente acertado no tom dos personagens e no desenvolvimento do enredo. É um daqueles raros livros que você só larga quando termina de ler e fica aflito quando acaba, esperando ansiosamente pela continuação.

Mas voltemos um pouco e vamos explicar sobre o que estou falando para aqueles que não tem a mínima ideia de quem é Felipe Castilho ou o que é a série que ele escreve. “Prata, Terra e Lua Cheia” é o segundo romance da série “O Legado Folclórico”, que teve como primeiro livro “Ouro, Fogo e Megabytes” – cuja resenha pode ser lida aqui. Os livros tem como protagonista um garoto nerd de 12 anos chamado Anderson Coelho, que mora no interior de uma cidade fictícia de Minas Gerais. Anderson é um garoto que prefere jogar RPG ao contato social, mas repentinamente se vê envolvido com uma Organização ambientalista e uma série de criaturas que, até então, nunca foi capaz de enxergar. No primeiro volume, Anderson enfrenta uma cuca, um grupo de capelobos e um boitatá gigante, entre outras feras presentes no folclore nacional.

Mas isso é o volume um e não estou aqui para falar dele. Então vamos ao que interessa.

No segundo livro, Anderson é novamente contatado pela Organização para embarcar em uma nova aventura: dessa vez, em uma ilha criada há muitos anos pela Iara e pelo Grande Caipora, com o objetivo de dar um fim às disputas territoriais entre o homem branco e os indígenas que viviam naquele pedaço de terra que outrora fizera parte do continente. A ilha, chamada Anistia, passou a ser palco de uma disputa que acontece periodicamente entre Organizações secretas e, por conta disso, Anderson é convocado a participar da próxima peleja. No entanto, mal sabe ele que os perigos que pode encontrar na ilha são muito mais mortais do que os que ele imagina.

No segundo volume d’O Legado, temos de volta uma série de personagens que deixaram saudades ao fim do volume um – entre elas, uma capivara que acha que é cachorro e uma arara falastrona. Esse sentimento de retorno é sempre muito bom, e me surpreendi ao perceber que, mesmo não tendo lido novamente o primeiro livro antes de começar o segundo, lembrei de praticamente todos os personagens que estavam presentes em “Ouro, Fogo e Megabytes”. Também somos apresentados a novos rostos, como o de uma metamorfa chiliquenta e um showman de programas de sobrevivência. O leque dos personagens é extremamente diversificado e, mesmo que algumas vezes eu tenha ficado um pouco perdido com a quantidade deles – principalmente no momento em que Anderson chega à ilha de Anistia –, aos poucos eles vão sendo desenvolvidos e digeridos pelo leitor, que passa a ter todos como companheiros.

Outra coisa que tenho que comentar é a ação praticamente incessante ao longo da história. O jogo que Anderson participa me remeteu imediatamente a Jogos Vorazes e Battle Royale. A comparação não nasce à toa: Anderson é incessantemente colocado à prova, tendo sempre sua vida posta em jogo para que possa continuar lutando por ela. Entre lobisomens e muiraquitãs, o protagonista passa por alguns apertos inacreditáveis e, quando acha que escapou de um problema, sempre aparece um maior para preocupá-lo mais (e o livro possui a melhor estratégia narrativa de um deus ex machina desde Scott Pilgrim). Os momentos de tensão estão dispersos ao longo de toda a narrativa, o que prende o leitor para sempre querer virar mais páginas e saber se o pescoço de Anderson sairá ou não ileso dali.

A utilização da mitologia continua ótima. Castilho possui o poder de manipular as lendas folclóricas – muitas vezes identificáveis a nós apenas pela obra de Monteiro Lobato – e devolvê-las ao leitor de uma forma completamente surpreendente e nova. Sem se preocupar com a sonorização de um nome indígena (que, para a maioria das pessoas, não é tão bonito quanto um nome europeu) ou com a utilização de criaturas oriundas da mitologia local, ele é muito feliz ao apresentar para o leitor seres que, à primeira vista, podem parecer pouco usuais ou sem graça, dando a elas uma roupagem por vezes soturna, por outras cômica, mas sempre levando em conta a adequação ao universo proposto por ele e a como determinada criatura pode se encaixar para dar mais movimento à narrativa.

Quanto às escorregadas de revisão, a editora parece ter tomado um cuidado dobrado para evitá-las ao máximo neste segundo volume. Vi apenas uma vírgula aqui e ali que eu suprimiria ou mudaria de lugar para dar mais fluidez ao texto, e não por estarem erradas; ponto para a preparação de texto da Gutenberg.

A capa continua seguindo o mesmo estilo (lindo) do primeiro volume, com o detalhe metálico no título que faz qualquer um que passe por uma livraria ficar com os olhos brilhando para ter o livro logo em mãos. Por dentro, o padrão de ilustrações por capítulo continua igual, com imagens que emulam xilogravuras belíssimas sobre a história.


Erros, defeitos, reclamação com a gerência? Sinceramente, nada muito relevante. Acho que a única coisa que me incomodou momentaneamente foi a quantidade excessiva de personagens no segundo terço do livro, mas isso logo foi sanado ao longo da história. Wagner Rios, o vilão, continua muito bem colocado e, neste livro, ganhou profundidade; Anderson também, com todas as suas escolhas éticas e as consequências que viu e ainda verá nos próximos volumes, foi um personagem construído com o intuito de cativar os leitores: por vezes chato, por outras extremamente inteligente, ele é o herói certo para o tipo de aventura que vive. Gostei particularmente da inserção da realidade dos sonhos/mortos, levando em conta todas as possibilidades que ela pode trazer para os próximos volumes.

Como destaque, posso citar as cenas dos lobisomens como as melhores do livro, tanto nas transformações quanto nas perseguições e na violência muito bem colocada para atingir um público mais novo e sedento por porradaria. O livro é excelente tanto para o público mais novo quanto para o mais velho. Anderson é um protagonista extremamente crível para um pré-adolescente esperto e cheio de fôlego para encarar aventuras.


O saldo final do livro é extremamente positivo. Ele consegue misturar ação, mitologia e diversão na medida certa para não ter em nenhum momento um tom chato ou pseudo-moralista. E CADÊ O VOLUME TRÊS?! (sem pressão, sem pressão...).

Posted on terça-feira, setembro 10, 2013 by Lucas Rocha

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2 de setembro de 2013


Setembro de anos ímpares é sempre assim para os cariocas amantes de livros: já começa de uma forma boa com a Bienal do Livro. Evento que acontece onde o Judas perdeu as botas no Riocentro, um amplo complexo multiuso que, para essa ocasião, é preenchido por estandes que vão desde livros sobre o final que nunca existiu da Caverna do Dragão (cheio, por sinal), passando pelos saldões desorganizados de livros a 5 e 10 reais (como eles conseguem ser tão baratos?!) e culminando nos estandes megalomaníacos das grandes editoras, recheados de fãs histéricos e desesperados por seus livros preferidos. Não importa se na internet é mais barato ou se as costas vão doer com o peso na mochila: ter o livro naquele momento é questão de honra.

Nesse ano não foi diferente: Bienal cheia, filas, gente doida por livros, filas, livros baratos, filas, livros caros, filas, filas, filas, filas... a Bienal se resumiu a filas. Filas para entrar no estande, para ir ao banheiro, para comer as comidas baratas e gostosas (sqn) de lá. As filas foram uma reclamação constante de todos, mas foram extremamente necessárias para organizar as coisas. O estande da Comix, por exemplo, só sobreviveu a uma guerra nerd por mangás porque havia um controle de quantas pessoas entravam e saíam. Ainda assim foi complicado se mexer no espaço apertado.

A legião de pessoas presente na Bienal era assustadora. Fui no domingo (01.09) e cheguei lá cedo, por volta das 10h. Fiquei todo feliz porque não tinha filas no caixa de entrada. Eu já tinha visto o caos que havia acontecido no sábado, com direito a dentadas em gente cadastrada e tudo mais, e pensei que domingo ia ser de boa, que ninguém ia ter a ideia genial de ir até o Riocentro e que o evento estaria um pouco (mas só um pouco) cheio.

Me enganei, ah, como me enganei.

Não foi de todo ruim, é claro. É Bienal, tem livros e tem gente legal, então sempre se aproveita alguma coisa. Nessa edição, consegui arrastar meu irmão (coitado, ficou decepcionado com os preços e com o catálogo pobre da Comix, mas pelo menos acabou comprando “As Vantagens de Ser Invisível”, que eu ainda não li), além da minha mãe e de uma amiga. Ficamos zanzando por lá e o primeiro estande em que entrei foi no pavilhão verde, chamado “Livraria São Marcos”. Um sebo que tem livros baratíssimos, mas que possui a grande desvantagem de desorganização. O dono do estande estava gritando que daria cinco mil reias para quem organizasse todos os livros até o fim do dia. Minha mãe gritou que eu era bibliotecário enquanto eu afundava minha cara em um livro qualquer, e é claro que ninguém se candidatou a ficar mais rico. Saí de lá com “Cock & Bull - Histórias para boi dormir” (um dos dois livros que a Geração Editorial publicou do Will Self) e “Papéis inesperados” do Julio Cortázar. Paguei R$28 nos dois. Pechincha.

Depois fui para o pavilhão azul, que se resumiu em: pânico. A fila do estande da Intrínseca (com livros a R$2, R$5 e R$9) dava uma volta de 360° para pagar; no estande da Panini, a fila para entrar era maior ou tão grande quanto a da Comix; na Saraiva, você parecia ter antecipado o Rock In Rio e estar no meio de uma apresentação do Metallica.

Por sorte, o estande do Grupo Objetiva estava transitável e cheio de promoções boas. Eles não tiveram a mesma ideia da última edição da Bienal (onde colocaram TODOS os livros da Ponto de Leitura a R$10), mas ainda assim a maior parte dos livros estava a esse preço ou até mais barato. Tentei caçar algum do Stephen King, mas eu já tinha todos (he he) e acabei comprando “A Guimba” e “Como vivem os mortos”, ambos do já citado Will Self (eu já falei que gosto MUITO MESMO do Will Self?), além de “Noite tropicais” do Nelson Motta e “Era no tempo do rei” do Ruy Castro (ambos edições de bolso da Ponto de Leitura). Os livros do Self, publicados pelo selo Alfaguara, estavam com 50% de desconto. No total, paguei R$71, o que não foi exatamente barato, mas também não foi a coisa mais cara do mundo (visto que, né, Alfaguara e tudo mais).

O pavilhão laranja é um pouco mais dedicado a livrarias universitárias, espaços alugados, divulgação de concursos, etc e tal. Por questões de falta de interesse tempo, não fiquei muito por lá. Acabei esbarrando com o Estevão Ribeiro, criador d’Os Passarinhos e dos Pequenos Heróis, entre outras preciosidades, e ele disse que estaria no estande da Gutemberg. Eu, que já tinha planos de ir lá para encontrar com o Felipe Castilho, segui sozinho até o estande, que estava lindo e cheio de promoções (como não poderia deixar de ser). Lá, comprei “Prata, terra & lua cheia”, do über sensacional Felipe Castilho; “O rei negro”, do escritor italiano Mark Menozzi; e “Joe Golem e a cidade submersa”, do Mike Mignola e do Christopher Golden, com tradução do Eric Novello. Paguei R$75 nos três livros (um belo desconto) e fiquei por lá. Nesse meio tempo, encontrei a Ana Cristina Rodrigues, que me mostrou a primeira edição da Revista Bang Brasil, que se dedicará ao mercado e ao gênero de literatura fantástica. Tem coisas lindas lá dentro (incluindo uma matéria do “Locke & Key”, yeah!) e eu só acho que vocês tinham que ler a revista, assim, anteontem.

Eu, no meu modo fanboy ligado,
pegando autógrafo do Castilho

Peguei um autógrafo do Felipe Castilho (que estava imerso em espirros e nariz vermelho, mas estava lá firme e forte, todo sorrisos com seu filhão mais novo) e acompanhei, junto com a Ana Cristina Rodrigues, a movimentação assustadora no estande com o lançamento e sessão de autógrafos dos livros “A ilha dos dissidentes”, da Bárbara Morais, e “De volta aos quinze”, da Bruna Vieira. Sério, caras, aquilo era de deixar qualquer um de olhos arregalados. As meninas que trabalhavam no estande iam para o estoque e voltavam carregadas com os livros e, quando davam as costas, as pilhas tinham magicamente sumido e a fila tinha ganhado uma nova parcela de gente doida para pagar e ir logo para os autógrafos. Encontrei a Iris Figueiredo por lá e falei brevemente com ela, que estava feliz com o sucesso da amiga Bárbara e não parava de sorrir (nota mental: comprar “A ilha dos dissidentes”). Também esbarrei com o Marcelo Amaral, criador “d’A Máquina Antibullying”, e com a esposa dele, mas infelizmente não parei muito para conversar.

Depois da maratona, passei em um estande que não lembro o nome e que ficava em frente ao estande da Gutemberg. Achei os maravilhosos “Independência ou mortos”, roteirizado pelo Abu Fobiya e ilustrado pelo Harald Stricker; e “No direction home – a vida e a música de Bob Dylan”, do selo Larousse. Paguei R$40 nos dois livros, um desconto sensacional.

Depois – só por obrigação – fui me aventurar para comer alguma coisa. Comi um yakissoba caro e não necessariamente gostoso com uma coca-cola. R$28. Dava pra comprar uns 5 livros naqueles estandes-saldões. Sério, a comida lá é muito cara, mas eu não tinha levado nada além de água, e já estava sem comer desde o café da manhã. Fui para a praça de alimentação (onde reencontrei meus familiares) e bati um papo com o Felipe Castilho (que é vegetariano, o que fez sua experiência gastronômica ser ainda mais sofrível com uma quiche de alho-poró).

E depois fui para casa. Ouvi um disco da Björk, um do Bob Dylan e um do The Doors ao longo do percurso. Dormi o que pareceram quatro horas e ainda conversei o que pareceram mais quatro com a minha mãe, que sentou do meu lado.

Ao fim de tudo isso, entramos em Ipanema.

Era a metade da minha viagem de volta para casa.

Minha pilha de livros \o\o/o\o/

Posted on segunda-feira, setembro 02, 2013 by Lucas Rocha

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16 de julho de 2013


Sonhar está entre as constantes da vida. Sem ideações filosóficas, sonhamos praticamente todos os dias, com paisagens surrealistas e monstros de três cabeças que precisamos enfrentar - e que nunca sabemos se vencemos ou não, uma vez que sempre acordamos antes do sonho ter seu desfecho cinematográfico. É partindo dessa premissa de sonhos que Natália Couto Azevedo constrói seu romance, "O Reino dos Sonhos: A Cidade de Cristal", primeiro de uma série ainda em andamento.

Conheci a Natália durante a FLIP 2013: tivemos a oportunidade de dividir a mesma casa e, por lá, fizemos um sarau durante uma das madrugadas. Natália leu o início de uma história na qual está trabalhando, e não pude deixar de ser fisgado pela narrativa dela: é comum desconfiarmos de livros de novos autores - "pouco tempo, muitos livros", blá blá blá -, mas a prosa dela me deixou convicto de que o livro seria no mínimo interessante. Ainda ao lado dela, acionei meu precário 3G e comprei a edição eletrônica na Amazon (uma pechincha e um ótimo negócio para mim, não sei se muito bom para ela, diga-se de passagem) e ainda preciso desenvolver uma tecnologia para que ela possa autografá-lo.

Foi então que, três dias após o fim da viagem, deitado no sofá da sala e tentando colocar as ideias no lugar para elaborar os primeiros passos do malfadado projeto de conclusão de curso, comecei a ler despretensiosamente. Pensei que fosse ler um ou dois capítulos e depois largar para lá, continuar com minhas leituras atuais e depois voltar ao livro em outra oportunidade. Só que, assim como a história que ela contou durante nosso sarau improvisado, me senti imediatamente fisgado pela narrativa de "O Reino dos Sonhos".

O plot da história é bem comum aos adeptos de romances young adults: a jovem Elorá, dezessete anos, estudante de primeiro ano de artes plásticas e desajustada social, está às voltas com sonhos bem estranhos, envolvendo um universo de florestas e seres com asas que contemplam a natureza; como forma de se expressar, pinta as imagens que vê em seus sonhos e tudo o que quer da vida é que sua orientadora a admire, que sua tia pare de reclamar e que o garoto por quem timidamente se apaixonou repare nela.

Natália Couto Azevedo foi muito feliz ao delinear sua protagonista: a voz dela é extremamente condizente com os dilemas de uma adolescente de primeiro ano de faculdade; senti, no entanto, alguns ecos excessivos de ensino fundamental e médio no relacionamento que ela tem com os amigos de corredor, adeptos ao bullying. Não sei se é algo que se encaixe apropriadamente na faculdade, onde tudo é dito de forma um tanto mais velada do que no colégio.

Mas, se por um lado ela peca com os personagens que não tem importância para o eixo narrativo, por outro ela acerta em cheio com os coadjuvantes: a escolha de poucos personagens para o número de páginas do livro coube na medida certa para que cada um fosse aprofundado devidamente. Gabriel e Leila, amigos de Elorá, são os que mais se destacam; mas também temos o irmão da protagonista, Felipe; a orientadora, Iris; a tia chata, Virgínia; e até sua gata de estimação, Lilás (ótimo nome para uma gata), todos muito bem articulados e com papéis muito bem definidos ao longo da história, que sempre está em constante movimento, apresentando novos conflitos, sejam eles de cunho pessoal ou que englobem a relação entre Elorá e o mundo dos sonhos.

Até mais ou menos metade da narrativa, estamos visualizando muito mais a Elorá humana do que a feérica: seus problemas afetivos e acadêmicos são o centro da narrativa. Na segunda metade, somos finalmente apresentados aos problemas que envolvem o mundo dos sonhos e os motivos que levam a protagonista a ter papel central naquela dimensão paralela. Para ser sincero, achei a segunda parte um tanto mais empolgante do que a primeira, mesmo que não descarte a importância dos dilemas pessoais de Elorá.

Um ponto que me deixou um pouco desconfortável foi a preparação de texto, principalmente o uso excessivo de vírgulas quando poderiam ser utilizados outros artifícios que dessem maior ritmo e fluidez ao texto, como ponto-e-vírgula ou mesmo pontos finais. Não vi erros gramaticais nem repetições de sentenças, não vi redundâncias ou problemas de acentuação. Natália escreve bem, com um vocabulário invejável a qualquer um que esteja publicando seu primeiro romance; acredito que, nesse caso, é um trabalho muito mais conjunto entre autor e revisor/preparador/copidesque do que individualmente do autor.

A capa não me agradou e isso é tudo o que digo sobre ela. Não posso comentar sobre a beleza do livro impresso porque li o e-book, mas achei as imagens - também disponíveis entre alguns capítulos do livro eletrônico - bem bonitas e condizentes com a história contada.

Natália optou pela escolha de um final completamente aberto, o que não me agrada completamente. Mesmo sabendo que se trata de uma série, gosto da sensação de arco fechado e de novas possibilidades para o futuro, ao invés de um final onde tudo fica em suspenso. Mas o que me deixou feliz foi o fato de que fiquei genuinamente curioso para saber o que acontece no segundo volume e estou esperando que ela termine de escrever para que possa ler o quanto antes.

Ler esse livro foi uma grata surpresa. Em primeiro lugar, porque não me considero público-alvo para ele, e ainda assim gostei bastante; e, em segundo, por se tratar do primeiro romance da autora, com um potencial gigantesco para se tornar uma ótima série. Natália Couto Azevedo soube condensar muito bem o fantástico com os sentimentos comuns a todos: da insegurança quanto a um trabalho onde tantas expectativas foram depositadas, do amor incipiente e a dúvida se ele é ou não correspondido, da confiança que nem sempre devemos ter àqueles que nos sorriem. Enfim, sobre a natureza humana, mesmo que com traços de fada.

Posted on terça-feira, julho 16, 2013 by Lucas Rocha

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13 de julho de 2013


Eu deveria estar escrevendo meu TCC, mas estou aqui para tirar as poeiras e as traças desse blog. Os hiatos estão cada vez maiores e as justificativas são muitas, mas não vou me estender muito nelas porque são todas aquelas que um aspirante a escritor e formando de penúltimo período de faculdade têm.

Semana passada, fui à FLIP pela primeira vez. Uma ótima experiência: gente boa dividindo casa comigo, sarau literário de madrugada, boa comida (fora a pizza, que os paulistas odiaram) e umas cachaças pra esquentar as madrugas frias de Paraty. Depois falo mais sobre isso. Ou não. Por enquanto, vou falar de um livro que ganhei por lá, li a toque de caixa – não por obrigação, mas por prazer – e que foi o grande responsável por me fazer parar o que estou fazendo na vida acadêmica para voltar a postar nesse blog. O livro “O evangelho segundo Hitler”, do paranaense Marcos Peres, vencedor do prêmio SESC na categoria de melhor romance do ano.

Lá estava eu, andando pelas pedras ingratas do chão de Paraty, quando o Raphael Montes (cuja resenha do livro pode ser vista aqui) me disse: ‘olha, hoje tem a entrega do prêmio SESC. Dá uma passada lá’. Eu já tinha ouvido falar alguma coisa sobre o prêmio SESC. Li o ‘Quiçá’, da Luisa Geisler (que ainda não resenhei) por conta do prêmio e sabia que, quem quer que fosse o vencedor, não seria um romance qualquer. Seria no mínimo uma história interessante, seja por forma ou conteúdo. Ou os dois.

Mas abreviando a história: caí no SESC meio sem querer, ganhei os livros – tanto o romance vencedor quanto o livro de contos estavam sendo distribuídos por moças simpáticas –, peguei autógrafos dos dois autores e o romance logo chamou minha atenção. Em primeiro lugar, pelo título (que, segundo Marcos Peres, não tem nenhuma relação com ‘O Evangelho segundo Jesus Cristo’ de Saramago) e também pela sinopse: segundo a história contada pela orelha do livro, Hitler teria elaborado a ideologia nazista a partir da leitura de Jorge Luis Borges. Essa ideia, por si só, já é incrível.

Então comecei a ler, curioso para saber o que me esperava. E não me arrependi nem por um segundo de ter colocado todas as minhas outras leituras em segundo plano e ter dado atenção ao Evangelho: logo de pronto, somos apresentados a Jorge Luis Borges – não o escritor, mas um homônimo –, aspirante a escritor que tem o estigma do mesmo nome de um importante escritor argentino e a certeza de que nunca será tão genial quanto o mestre bibliotecário. As coincidências são muitas: desde o nome à aparência física, passando pelos amores e pelas histórias contadas pelos dois Borges, há um jogo de espelhos onde o reflexo (que é nosso Borges-protagonista) sempre parece sublocado ao Borges-bibliotecário, como se fosse uma sombra, sempre encolhido atrás de sua figura principal.

Pois bem, essa confusão de nome acaba levando nosso Borges-protagonista a ser confundido com o Borges-bibliotecário. Interpelado por um grupo de alemães depois de uma série de desventuras amorosas, Borges-protagonista é tragado para o seio da Alemanha nazista, às rodas secretas e aos símbolos e fantasias megalomaníacas de Hitler, apoiadas por um grupo secreto sempre presente na história da humanidade.

Os ecos de Umberto Eco são latentes ao longo do romance. Mas, diferente do escritor italiano, Marcos Peres consegue dosar muito bem romance e didatismo, aventura e erudito; em nenhum momento me senti lendo um livro acadêmico – o que aconteceu nas ocasiões em que li o Eco e fiquei com vontade de pular umas vinte páginas de explicações que não fariam diferença no romance –, mas me senti lendo um desses romances policiais vertiginosos que não nos deixam ir embora. E tudo isso com um conteúdo extremamente bem construído. Não sei se Marcos Peres debruçou-se em uma pesquisa do zero com a vida e a obra de Jorge Luis Borges ou se é um desses fãs obsessivos que leu e analisou tudo sobre o autor. Nas duas opções, só consigo dizer parabéns pela ideia e pelas relações estabelecidas entre os contos de Borges e o nazismo.

A edição está muito bem feita, tanto capa como diagramação. Não achei nenhum erro de revisão escandaloso, nada que tenha ficado na minha memória como algo a ser comentado. Também não tenho nada a comentar quanto a defeitos narrativos: não consegui encontrar nada que mudaria na história que Marcos quis contar.

Para mim, uma das melhores leituras que fiz esse ano (senão a melhor). Achei muito boa a decisão do prêmio SESC de premiá-lo, mesmo que não seja um livro que trate de brasilidades, mas sim de Alemanha nazista e sociedades secretas. “Evangelho Segundo Hitler” é desses livros que divertem e ensinam, que te mostram uma teoria que a princípio não faz nenhum sentido, mas quando explicada te dá aquele sense of wonder de ‘é, até que isso realmente poderia ter acontecido’. E que te dá vontade de ler Jorge Luis Borges. Eu já peguei meu exemplar velhinho de ‘Ficções’ e dei uma relida. Vou pegar ‘O Aleph’ essa semana na biblioteca pública. E por aí vamos.

Marcos Peres, autor de "O Evangelho Segundo Hitler"

Posted on sábado, julho 13, 2013 by Lucas Rocha

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15 de fevereiro de 2013





Sempre admirei muito o trabalho de Hitchcock. Durante meus tempos de colégio e exploração pelo catálogo de filmes clássicos na locadora (nem parece que faz só uns cinco anos quando a gente fala hoje em dia de locadoras, esses itens raros e cada vez menos presentes em nosso cotidiano, mas isso é papo para outro post), vibrei quando vi James Stewart com uma perna engessada e meio paranoico com um vizinho que poderia ser um psicopata; ou quando ele subia uma pequena escada e olhava para cima e para baixo, para cima e para baixo, e então ficava com vertigem e quase caía. Mas foi apenas com Psicose – que eu vi lá pelos meus treze ou catorze anos – que percebi como o cinema pode ser atemporal. Era uma história vibrante que poderia acontecer muito bem nos dias de hoje, dadas as pequeníssimas adaptações históricas: mulher rouba dinheiro, foge, vai até hotel macabro e descobre que filho e mãe possuem uma relação bastante conturbada. E depois desaparece. Simples e direto. Ouso dizer que Psicose foi um de dois ou três filmes responsáveis por me fazer gostar de cinema clássico – e por clássico quero dizer antigo mesmo. Psicose foi responsável por tirar de mim a urgência hollywoodiana de planos picotados e frames de 0,5 segundo em cenas de ação.

Então, quando vi que a Intrínseca traduziu um dos principais livros sobre os bastidores da filmagem, datado de 1990 e publicado por motivos da adaptação cinematográfica, fui correndo para comprá-lo. Li a edição digital em menos de dois dias, tanto por ser um livro breve quanto por ser extremamente bem escrito e interessante.

Janet Leigh com medo de morrer
Stephen Rebello é bastante feliz ao reconstruir os anos 50 e 60 com assertividade, e de modelar a história de ‘Psicose’ desde antes de Hitchcock ou do livro que deu origem ao filme. “Alfred Hitchcock e os bastidores de Psicose” se inicia com a descrição de uma série de assassinatos cometidos por Ed Gein nos anos 50, e a subsequente descoberta, por parte da polícia, de um quarto repleto de móveis e roupas confeccionadas com pele humana feminina; a teoria mais aceita é a de que Gein pretendia fazer uma ‘roupa feminina’ para que emulasse ser sua mãe enquanto cometia os assassinatos.

Esse foi o ponto de partida para Robert Bloch, romancista pulp, construir o romance ‘Psicose’: como o livro de Stephen Rebello descreve, misturou-se crueldade, uma série de assassinatos e psicanálise barata (Freud era a grande sensação da época) em um caldeirão e pronto, nascia um romance. Romance esse que ficaria relegado ao esquecimento, dada a proporção de romancistas policiais nos anos 40 e a proliferação de títulos obscuros, não fosse as mãos ágeis de Hitchcock.

Pôster do filme Psicose (com uma
mulher só de sutiã, absurdo na época!)
“Bastidores de Psicose” é dividido em três partes: pré-produção, produção e pós-produção. Nele, somos apresentados a todo o panorama hitchcockiano que, ironicamente, o próprio Hitchcock vivia: rico e bem-sucedido, mas em crise, principalmente por seus últimos filmes (‘Intriga Internacional’ e ‘Um Corpo que Cai’, hoje clássicos) não terem sido exatamente sucessos de público e crítica à época. A Universal não acreditava que ele pudesse apresentar um bom material e pouco crédito dava a ele. O diretor, ao descobrir o romance de Bloch e perceber que aquele poderia ser um próximo filme, começou sua odisseia para torná-lo real.

É muito interessante mergulhar em todo o processo de produção do filme. Desde o juramento que Hitchcock obrigou todos os envolvidos no filme a fazerem para que não revelassem nada sobre as gravações, passando pela já clássica história de que o diretor comprou todos os exemplares do livro de Bloch para que ninguém descobrisse o final e culminando na gigantesca campanha de marketing e no sucesso absurdo e inexplicável que o filme fez – que envolveu gritos e pessoas desmaiando nas salas de cinema durante as cenas clássicas do chuveiro, do assassinato na escada e do cadáver sentado na cadeira giratória. O livro é extremamente eficiente ao desdobrar todos esses acontecimentos, tendo sempre em Hitchcock a figura central para todos os acertos e percalços pelos quais a produção passou.

Anthony Hopkins como
Alfred Hitchcock
Como já disse um pouco acima, o livro recebeu uma adaptação pelas mãos do diretor Sacha Gervasi (é, também não o conheço, mas catei no IMDB e ele dirigiu aquele “O Terminal”, filmezinho mais ou menos com o Tom Hanks) e teve como protagonistas Anthony Hopkins (impecável, as allways) como Alfred Hitchcock e Helen Mirren (também impecável) como Alma Hitchcock, esposa do diretor. O filme, como qualquer adaptação, sofre com alguns cortes, mas também é bastante divertido: desde a alusão ao programa televisivo de Hitchcock logo no início e os tons irônica e excessivamente coloridos, meio parecidos com os filmes do Almodóvar, passando pelas grandes atuações dos protagonistas e – porque não – dos coadjuvantes também. Só achei um pouco desnecessárias as cenas constantes sobre os assassinatos de Ed Gein, sempre presentes no filme como interlúdios.

Para quem gosta de Hitchcock, acho uma leitura indispensável; aos que não conhecem, sugiro que vejam o filme antes de se embrenharem pela leitura do livro ou pelo filme de Gervasi. Assistir ‘Psicose’ pela primeira vez, sem ter ideia do que esperar ou do que o final reserva, é uma experiência pela qual todos deveriam passar. Sem sombra de dúvidas, é uma daquelas histórias que ficam na sua memória por muito tempo, com cenas icônicas e personagens que, mesmo que apareçam brevemente, são eternos.

PS:. ‘Bates Motel’, série da A&E baseado no filme de Hitchcock, está para sair. Dá uma conferida no trailer, parece que vai ser bem interessante.


PS2: ‘Psicose’ tem três continuações e uma refilmagem de 1998, e ‘Bates Motel’ possui um filme de 1987. Faça um favor a você mesmo e não assista a nenhum desses derivados. É sério. Depois não diga que eu não avisei. A vida é muito curta.

Até mais!

Posted on sexta-feira, fevereiro 15, 2013 by Lucas Rocha

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13 de fevereiro de 2013




Não adianta: você pode ser o quão rockeiro quiser e gastar sua saliva falando que ‘música brasileira não presta, MBP é uma merda e eu só ouço Slipknot e SOAD’, mas não há como negar que a Gal Costa tem uma voz que deixaria Serjs e Coreys sentados no meio-fio de uma interestadual qualquer, chorando. A mulher é dona de uma das vozes mais potentes que já ouvi em todos os milhões de megabytes que tenho de música, e tenho certeza que é um pouco difícil chegar ao nível de perfeição dela.

E, como toda boa cantora que se preze, não é raro a Gal soltar um agudo que estoura todas as janelas da casa. E eles são legais. Te deixam meio zonzo, mas são legais. Decidi listar aqui cinco músicas que, para mim, definem muito bem o tipo de artista que a Gal é e o que ela canta, pra vocês verem que ela não é só “eu nasci assim, eu cresci assim, Gabriela”. Acho que é uma oportunidade pra quem não conhece e uma boa pra quem já conhece acompanhar comigo os berros dela. Vambora?

5. Cinema Olympia

Bora começar de leve. Essa música, que abre o disco ‘Gal’, de 1969 – para mim, o melhor disco da história da música brasileira, sem mais – fala sobre uma matinê no tal Cinema Olympia, um cineminha lá de Belém do Pará fundado em 1912 e que resiste até hoje fazendo mostras de filmes clássicos. Ela não solta nenhum berro absurdo nessa música (tenho que admitir), mas solta um ‘AU’ antes de emendar no refrão que me conquista sempre que ouço.


4. Cultura e Civilização

Outra música do ‘Gal’, de 1969. “A cultura e a civilização / elas que se danem / ou não” e “contanto que me deixem / meu cabelo belo” já mostram todo o deboche dessa música. As oscilações vocais da Gal são absurdas de bonitas, indo do grave pro agudo e pro estridente e pro berro e pro escárnio, tudo ao mesmo tempo. E berros, muito bem dosados, ao longo da música.


3. Meu Nome é Gal

Gal (1969)
Talvez seja injustiça não colocar “Meu Nome É Gal” (também do ‘Gal’ de 1969 – eu não disse que esse é o melhor disco da história?) em primeiro lugar, mas tenho minhas cartas na manga. Nessa música, Gal fala dela mesma. Mesmo que não tenha sido ela a compositora, ela faz um meio-relato meio-canção e sua vontade de “se corresponder com um rapaz que seja o tal”. E no fim, depois de muita candura e muito amorzinho, ela começa a berrar implorar e berrar pedir e berrar dizer que quer muito amar alguém.


2. Índia

Índia (1973)
Nos meus arquivos existem duas versões dessa música, uma de 1973 e outra de 1979. Estou falando da primeira versão, do disco “Índia” de 1973. Essa música é uma pintura descritiva: se demora descrevendo pormenorizadamente a índia que é personagem para depois descobrirmos que ela não estará mais presente na vida do personagem que se despede dela. É uma música triste e bucólica, sobre dor da perda e distância, que vai se construindo aos poucos. No começo, pensamos até que a música é assim até o fim, calminha, um bolero pra balançar a cabeça e dançar de olhos fechados e agarrado a quem a gente gosta. Mas, no último minuto dos quase sete de música, Gal começa a crescer e crescer e crescer e, quando a gente percebe, ela já está completamente doida e berrando ‘TOOOOODO MEU PARAGUAAAAAAI’. Sem dúvidas, uma das músicas mais bonitas dela.


1. Vapor Barato

-Fa-Tal- (1971)
Se você acha que essa música é d’O Rappa, péééééé, você está errado. Esse é, na verdade, um dos registros mais importantes e bonitos da carreira da Gal. Gravado ao vivo e disponibilizado no disco “FaTal – Gal a todo o vapor”, de 1971, ‘Vapor Barato’ é a última música do disco, e também a mais longa (mais de oito minutos!). É uma música que começa no silêncio, com apenas um violão acompanhando a voz dela, que parece estranhamente acanhada e entristecida. Não é uma música divertida como ‘Cinema Olympia’ ou ‘Cultura e Civilização’; é, muito pelo contrário, um registro extremamente pesado e difícil de digerir. A voz dela vai te envolvendo aos poucos e é necessário um pouco de paciência para que a música atinja seu ápice. Mas, quando ele chega, não há decepção.

Vapor Barato by Gal Costa on Grooveshark

E aí, achou a lista justa? Faltou alguma coisa ou os berros estão fora do lugar? Comente aí embaixo! :)


Posted on quarta-feira, fevereiro 13, 2013 by Lucas Rocha

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