Setembro de anos ímpares é sempre assim para os cariocas amantes de livros: já começa de uma forma boa com a Bienal do Livro. Evento que acontece onde o Judas perdeu as botas no Riocentro, um amplo complexo multiuso que, para essa ocasião, é preenchido por estandes que vão desde livros sobre o final que nunca existiu da Caverna do Dragão (cheio, por sinal), passando pelos saldões desorganizados de livros a 5 e 10 reais (como eles conseguem ser tão baratos?!) e culminando nos estandes megalomaníacos das grandes editoras, recheados de fãs histéricos e desesperados por seus livros preferidos. Não importa se na internet é mais barato ou se as costas vão doer com o peso na mochila: ter o livro naquele momento é questão de honra.

Nesse ano não foi diferente: Bienal cheia, filas, gente doida por livros, filas, livros baratos, filas, livros caros, filas, filas, filas, filas... a Bienal se resumiu a filas. Filas para entrar no estande, para ir ao banheiro, para comer as comidas baratas e gostosas (sqn) de lá. As filas foram uma reclamação constante de todos, mas foram extremamente necessárias para organizar as coisas. O estande da Comix, por exemplo, só sobreviveu a uma guerra nerd por mangás porque havia um controle de quantas pessoas entravam e saíam. Ainda assim foi complicado se mexer no espaço apertado.

A legião de pessoas presente na Bienal era assustadora. Fui no domingo (01.09) e cheguei lá cedo, por volta das 10h. Fiquei todo feliz porque não tinha filas no caixa de entrada. Eu já tinha visto o caos que havia acontecido no sábado, com direito a dentadas em gente cadastrada e tudo mais, e pensei que domingo ia ser de boa, que ninguém ia ter a ideia genial de ir até o Riocentro e que o evento estaria um pouco (mas só um pouco) cheio.

Me enganei, ah, como me enganei.

Não foi de todo ruim, é claro. É Bienal, tem livros e tem gente legal, então sempre se aproveita alguma coisa. Nessa edição, consegui arrastar meu irmão (coitado, ficou decepcionado com os preços e com o catálogo pobre da Comix, mas pelo menos acabou comprando “As Vantagens de Ser Invisível”, que eu ainda não li), além da minha mãe e de uma amiga. Ficamos zanzando por lá e o primeiro estande em que entrei foi no pavilhão verde, chamado “Livraria São Marcos”. Um sebo que tem livros baratíssimos, mas que possui a grande desvantagem de desorganização. O dono do estande estava gritando que daria cinco mil reias para quem organizasse todos os livros até o fim do dia. Minha mãe gritou que eu era bibliotecário enquanto eu afundava minha cara em um livro qualquer, e é claro que ninguém se candidatou a ficar mais rico. Saí de lá com “Cock & Bull - Histórias para boi dormir” (um dos dois livros que a Geração Editorial publicou do Will Self) e “Papéis inesperados” do Julio Cortázar. Paguei R$28 nos dois. Pechincha.

Depois fui para o pavilhão azul, que se resumiu em: pânico. A fila do estande da Intrínseca (com livros a R$2, R$5 e R$9) dava uma volta de 360° para pagar; no estande da Panini, a fila para entrar era maior ou tão grande quanto a da Comix; na Saraiva, você parecia ter antecipado o Rock In Rio e estar no meio de uma apresentação do Metallica.

Por sorte, o estande do Grupo Objetiva estava transitável e cheio de promoções boas. Eles não tiveram a mesma ideia da última edição da Bienal (onde colocaram TODOS os livros da Ponto de Leitura a R$10), mas ainda assim a maior parte dos livros estava a esse preço ou até mais barato. Tentei caçar algum do Stephen King, mas eu já tinha todos (he he) e acabei comprando “A Guimba” e “Como vivem os mortos”, ambos do já citado Will Self (eu já falei que gosto MUITO MESMO do Will Self?), além de “Noite tropicais” do Nelson Motta e “Era no tempo do rei” do Ruy Castro (ambos edições de bolso da Ponto de Leitura). Os livros do Self, publicados pelo selo Alfaguara, estavam com 50% de desconto. No total, paguei R$71, o que não foi exatamente barato, mas também não foi a coisa mais cara do mundo (visto que, né, Alfaguara e tudo mais).

O pavilhão laranja é um pouco mais dedicado a livrarias universitárias, espaços alugados, divulgação de concursos, etc e tal. Por questões de falta de interesse tempo, não fiquei muito por lá. Acabei esbarrando com o Estevão Ribeiro, criador d’Os Passarinhos e dos Pequenos Heróis, entre outras preciosidades, e ele disse que estaria no estande da Gutemberg. Eu, que já tinha planos de ir lá para encontrar com o Felipe Castilho, segui sozinho até o estande, que estava lindo e cheio de promoções (como não poderia deixar de ser). Lá, comprei “Prata, terra & lua cheia”, do über sensacional Felipe Castilho; “O rei negro”, do escritor italiano Mark Menozzi; e “Joe Golem e a cidade submersa”, do Mike Mignola e do Christopher Golden, com tradução do Eric Novello. Paguei R$75 nos três livros (um belo desconto) e fiquei por lá. Nesse meio tempo, encontrei a Ana Cristina Rodrigues, que me mostrou a primeira edição da Revista Bang Brasil, que se dedicará ao mercado e ao gênero de literatura fantástica. Tem coisas lindas lá dentro (incluindo uma matéria do “Locke & Key”, yeah!) e eu só acho que vocês tinham que ler a revista, assim, anteontem.

Eu, no meu modo fanboy ligado,
pegando autógrafo do Castilho

Peguei um autógrafo do Felipe Castilho (que estava imerso em espirros e nariz vermelho, mas estava lá firme e forte, todo sorrisos com seu filhão mais novo) e acompanhei, junto com a Ana Cristina Rodrigues, a movimentação assustadora no estande com o lançamento e sessão de autógrafos dos livros “A ilha dos dissidentes”, da Bárbara Morais, e “De volta aos quinze”, da Bruna Vieira. Sério, caras, aquilo era de deixar qualquer um de olhos arregalados. As meninas que trabalhavam no estande iam para o estoque e voltavam carregadas com os livros e, quando davam as costas, as pilhas tinham magicamente sumido e a fila tinha ganhado uma nova parcela de gente doida para pagar e ir logo para os autógrafos. Encontrei a Iris Figueiredo por lá e falei brevemente com ela, que estava feliz com o sucesso da amiga Bárbara e não parava de sorrir (nota mental: comprar “A ilha dos dissidentes”). Também esbarrei com o Marcelo Amaral, criador “d’A Máquina Antibullying”, e com a esposa dele, mas infelizmente não parei muito para conversar.

Depois da maratona, passei em um estande que não lembro o nome e que ficava em frente ao estande da Gutemberg. Achei os maravilhosos “Independência ou mortos”, roteirizado pelo Abu Fobiya e ilustrado pelo Harald Stricker; e “No direction home – a vida e a música de Bob Dylan”, do selo Larousse. Paguei R$40 nos dois livros, um desconto sensacional.

Depois – só por obrigação – fui me aventurar para comer alguma coisa. Comi um yakissoba caro e não necessariamente gostoso com uma coca-cola. R$28. Dava pra comprar uns 5 livros naqueles estandes-saldões. Sério, a comida lá é muito cara, mas eu não tinha levado nada além de água, e já estava sem comer desde o café da manhã. Fui para a praça de alimentação (onde reencontrei meus familiares) e bati um papo com o Felipe Castilho (que é vegetariano, o que fez sua experiência gastronômica ser ainda mais sofrível com uma quiche de alho-poró).

E depois fui para casa. Ouvi um disco da Björk, um do Bob Dylan e um do The Doors ao longo do percurso. Dormi o que pareceram quatro horas e ainda conversei o que pareceram mais quatro com a minha mãe, que sentou do meu lado.

Ao fim de tudo isso, entramos em Ipanema.

Era a metade da minha viagem de volta para casa.

Minha pilha de livros \o\o/o\o/