André Vianco é amplamente conhecido pelos adoradores do gênero terror como um dos escritores mais prolíferos e bem-vendidos do país quando o assunto são vampiros. Dono de uma legião de fãs que faz inveja a qualquer autor internacional de best-sellers, André Vianco parece saber exatamente o que seus admiradores querem nos seus romances, cheios de cenas de ação, num ritmo a mil por hora que eletriza muitos dos que leem suas histórias.

Tenho que confessar que eu nunca fui um entusiasta do autor: li dois ou três livros dele e sempre os achei dentro de um limite bom, mas nada que me surpreendesse. ‘Os Sete’, seu livro mais vendido e cultuado, realmente tem algumas características absurdamente criativas, mas não está na minha lista de preferidos. ‘O Senhor da Chuva’ e a saga ‘O Turno da Noite’ também não me saltaram aos olhos. Eu pensava que ele seria mais um daqueles autores que eu olharia com desdém quando lançasse algum livro novo, por não ter me empolgado muito com os outros romances que já havia lido.

Mas aí eu tenho que dizer que minha opinião mudou completamente depois que li ‘O Caso Laura’. Fui ao lançamento do livro e ganhei um exemplar de presente, e logo comecei a lê-lo. Tenho que dizer que fiquei empolgado com a qualidade do que encontrei

Diferente de seus romances usuais, em ‘O Caso Laura’ (Editora Rocco, 272 págs) não há vampiros. Vendido como um romance policial – mas com os dois pés enterrados na fantasia depois da primeira parte –, o livro conta a história de Laura, uma protagonista quebrada pelas circunstâncias da vida. Restauradora de artefatos religiosas, Laura tem um passado traumatizado e um pai na cama de um hospital, vítima de um câncer que parece devorá-lo cada vez mais. O único conforto de Laura são os encontros que tem com Miguel, um amigo que ouve todas as suas agruras em um banco de praça, dando-lhe conselhos que funcionam como um tipo de calmante para a sua alma.

O que Laura sequer desconfia é que suas conversas estão sendo ouvidas por Marcel. Investigador particular, Marcel recebe uma bolada de um desconhecido que não pretende relevar sequer o seu nome para descobrir qual a relação que existe entre Laura e Miguel. Mesmo com o pé atrás, Marcel não recusa o dinheiro e passa a investigar Laura, ouvindo todas as conversas que ela e Miguel mantêm.

Paralelamente à história principal, temos a história de Alan, um investigador da polícia civil que está sob análise da Corregedoria, avaliado de perto pela agente Gabriela. Juntos, os dois investigam o caso de uma menina drogada que foi encontrada morta com o rosto desfigurado por pauladas em uma casa abandonada.

O panorama que Vianco nos dá é amplo, mas altamente eficaz. Mesmo com a quantidade de personagens versus quantidade de páginas – muitas vezes me perguntei se ele daria conta de amarrar todas as histórias com um número relativamente reduzido de páginas –, ele se sai muito bem. Seus personagens são, acima de tudo, críveis, mostrando facilmente sua personalidade através de seus diálogos e suas atitudes. Laura é uma personagem absolutamente complexa, mergulhada em um momento de depressão que pesa em sua vida e faz compadecer qualquer um que lê suas angústias. Em momento algum a personagem pareceu forçada, o que é uma vitória, já que, quando se trata de um assunto tão delicado quanto depressão, cair em um clichê mal explicado seria fácil demais.

Outra coisa que muito me chamou a atenção foi a habilidade que o autor teve para linkar todos os acontecimentos ao final do livro. Ele vai deixando pequenas pistas ao longo de toda a narrativa e, em alguns casos, dá para saber perfeitamente no que aquilo vai resultar. Mas, em outros casos, a surpresa é inevitável e altamente satisfatória. É o tipo de coisa que olhamos e pensamos ‘como não pude ver isso antes?!’. E esse tipo de surpresa sempre é legal em um livro.

Minhas críticas negativas são poucas e bem pontuais, nada que atrapalhe a leitura: uma se concentra nos parágrafos excessivamente longos que Vianco escreve. Em alguns momentos são sim necessários, principalmente quando discorrem sobre algum sentimento dos personagens; mas há outras oportunidades em que o parágrafo pode ser facilmente quebrado e o texto pode ganhar um pouquinho de ritmo. Outra pequena crítica, quase irrelevante, se reserva ao momento em que Marcel ouve uma gravação e, ao longo dos diálogos, Vianco acaba descrevendo uma cena. Se, ao invés da descrição, fossem colocados apenas os diálogos sobrepostos, o ar ficaria muito mais cru e, tenho certeza, a cena ficaria ainda mais interessante, como se realmente fôssemos Marcel e estivéssemos apenas ouvindo barulhos de coisas sendo jogadas e pessoas sendo socadas, sem que isso precisasse ser descrito para nós.

Apesar de ser um livro bem triste, ‘O Caso Laura’ é, para mim, o melhor que já li de André Vianco. Ele desacelera um pouco a ação característica de seus outros romances, mas consegue nos prender exatamente por seus personagens, pelo drama e pelo desenvolver ao mesmo tempo lento e perspicaz das histórias apresentadas. Com certeza, um livro para ser lido e, além disso, refletido, porque possui uma mensagem bastante interessante. Daqueles que passam rápido e que sou obrigado a recomendar para todos aqueles que estão a procura de uma boa história.